quinta-feira, 14 de maio de 2009

Quem são os tweens?

Os pré-adolescentes vivem na corda bamba, sem saberem para que lado cair, balançando entre a infância e adolescência. O à-vontade com que usam a internet e os telemóveis fazem-nos parecer muito crescidos, mas ainda é no colo dos pais que se sentem mais seguros.



Entre os oito e os 12 anos, está-se com um pé na infância e outro na adolescência. Muitos pais chamam-lhe «a idade da parvoíce», queixando-se que, nesta fase, os filhos tão depressa querem ser adolescentes, como têm atitudes de bebés. Nos Estados Unidos, chamam-lhes tweens, numa junção de between (entre) e de teens (diminutivo de adolescentes).



Um novo corpo, uma nova mente



«Nesta fase, em que a criança está a desenvolver a sua individualidade e os seus gostos, os pais devem respeitar (dentro do razoável), por exemplo, a decoração do quarto, a escolha do vestuário, a necessidade de privacidade», aconselha Rosa Gouveia, vice-presidente da secção de Pediatria do Desenvolvimento da Sociedade Portuguesa de Pediatria. Por outro lado, acrescenta a médica, «a criança espera também ter um papel mais activo na dinâmica familiar». É uma boa altura para dar-lhes pequenas tarefas em casa e incutir-lhes o sentido de responsabilidade. O diálogo com os pais é essencial para que enfrentem com segurança as modificações que começam a despontar no corpo e na mente.



Habitualmente, dá-se muita importância aos adolescentes e às alterações que ocorrem na adolescência, mas a vida dos pré-adolescentes também não é completamente serena. Até porque adolescência e puberdade não são sinónimos e os primeiros sinais de mudança no corpo e na mente podem revelar-se antes dos 12 anos.



«Nas raparigas, o primeiro sinal de puberdade é uma aceleração da velocidade de crescimento, seguindo-se o desenvolvimento mamário, o aparecimento de pêlo púbico e axilar e a primeira menstruação. Podendo, tudo isto, ocorrer antes dos 12 anos», explica Rosa Gouveia. «Nos rapazes, o início da puberdade ocorre mais tarde e caracteriza-se por modificações nos órgãos genitais». Como o desenvolvimento pubertário se inicia mais cedo no sexo feminino, significa que, geralmente, começa na pré-adolescência nas raparigas e só na adolescência nos rapazes. Assim, «por volta dos 10 anos, é habitual as raparigas serem mais altas do que os rapazes e terem mais força muscular», explica a pediatra.



As modificações físicas são acompanhadas por modificações de comportamento que se prendem «com o desejo de afirmação pessoal, com a procura de autonomia, a aceitação pelo grupo, a mudança de interesses, sobretudo na rapariga, enquanto que o comportamento do rapaz é mais infantil».



Consumidores natos



Cerca de 80 por cento das marcas compradas pelos pais resultam da influência das crianças entre os 7 e os 12 anos, segundo um estudo da Consumer Insight OMG, de 2008. Na compra de um automóvel, por exemplo, elas chegam a ter influência em 67 por cento das decisões. Não admira, assim, que estas crianças estejam entre os públicos preferidos das campanhas de marketing e de publicidade. Tweens é, aliás, um conceito do marketing que se extrapolou para o vocabulário universal.



António Cardoso, Coordenador do Mestrado em Marketing para Crianças e Jovens, na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, explica que é nestas idades que as crianças começam a ter «uma noção clara do que querem», que começam a seleccionar marcas e a preferir brinquedos e artigos mais sofisticados. «É nesta fase que surge o conceito de cool, de ser fixe, e estar integrado é bastante importante. Por isso, querem ser autónomos na escolha da roupa, mas também na escolha do snack ou dos cereais. E surge o conceito de marca. Especialmente por volta dos 10, 11 anos, as crianças não querem uns cereais quaisquer, querem determinada marca. A sua atenção está concentrada nos produtos que possam proporcionar satisfação pessoal, tendo em conta a capacidade que esse objecto tem na integração no grupo de pares», explica.



Esta mania das marcas não significa que os tweens se deixem manipular facilmente pela publicidade. Pelo contrário, são um público bastante exigente. «Eles têm uma grande capacidade crítica em relação aos objectos que são do seu interesse. Conseguem procurar e verificar a veracidade das informações que são prestadas. E como já têm uma grande sentido de justiça, conseguem referir-se às empresas como sendo de confiança ou não», acrescenta o professor de Marketing. Na opinião de António Cardoso, que também tem dois filhos, com 12 e 14 anos, este interesse pelas marcas e pelo consumo deve ser encarado pelos pais como algo positivo. «Quando eu precisei de comprar um computador novo, pedi aos meus filhos que fizessem uma pré-selecção do que havia no mercado e eles fizeram um trabalho fantástico. Ajudou-me imenso.»



Geração digital



Mais perto dos 11, 12 anos, à medida que a vida social começa a intensificar-se e os melhores amigos a destacarem-se, a net e o telemóvel ganham importância. Isso mesmo demonstrou outro estudo, da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, segundo o qual 93,3 por cento dos alunos do 6º ano (com 11 ou 12 anos) têm telemóvel e enviam uma média de 84,2 mensagens por semana (uma média de 12 por dia). Mesmo que pareça muito, o número está ainda longe das 235 mensagens semanais enviadas pelos alunos do 10º ano (33,5 por dia).



Os pais dos pré-adolescentes espantam-se com a aptidão natural dos filhos para lidarem com novas tecnologias. Mas só podia ser assim. «Enquanto nós fomos habituados a aprender através da repetição, esta geração aprende a fazer, a experimentar», afirma António Cardoso, lembrando um exemplo que viu recentemente em Londres. «A loja da Apple é um edifício de dois andares, com todos os produtos da marca disponíveis para experimentar. Quando lá estive, a loja estava cheia de miúdos destas idades.» E esta ânsia de conhecer o que há de novo não se prende apenas com as novas tecnologias. Os pré-adolescentes ainda não têm os gostos refinados dos adolescentes. Andam à procura. Gostam de tudo e não gostam de nada. Só experimentando, vendo, ouvindo vão conseguir apurar preferências, descobrir o que lhes dá prazer e construir a sua personalidade. E precisam da colaboração e paciência dos pais para darem estes primeiros passos sozinhos.



Namorados e namoradas



Os pré-adolescentes já conhecem bem as diferenças entre rapazes e raparigas e já sabem de onde vêem os bebés. Com os mistérios da sexualidade mais ou menos resolvidos, desejam agora ter a sua privacidade e autonomia. Já não acham piada a andarem nus em frente ao pai, à mãe ou aos irmãos. Querem ir à casa de banho sozinhos, querem vestir-se e despir-se sem a ajuda dos pais e gostam de ter controlo sobre o seu corpo. É natural que se masturbem, mas isso será feito na intimidade, não com o objectivo de descobrir o corpo, mas sim de proporcionar prazer a si próprios. Ainda assim, entre a entrada para a escola e os 12 anos, as crianças vivem um período relativamente calmo em relação à sexualidade, a que se chama fase de latência. Os seus interesses estão agora muito mais alargados, querem saber, por exemplo, de onde vem o vento, e preferem explorar o corpo de outras formas, pulando e correndo. Os melhores amigos são quase sempre do mesmo sexo, mas começa a crescer um interesse pelo sexo oposto. Se mais perto dos oito anos, os rapazes «são uns parvos» para as raparigas, e vice-versa, mais perto dos 12, o sexo oposto começa a merecer uma atenção especial e as conversas giram muito à volta disso mesmo, quer seja no recreio da escola, no Messenger ou através de mensagens no telemóvel. No entanto, a vergonha não deixa que aconteça nada mais. A partir dos 12 anos, ou, às vezes, mais cedo – não há regras – a sexualidade volta a ganhar importância. As hormonas fazem perder o medo da aproximação e surgem os primeiros namoros.





Passagem ao concreto



Segundo a Teoria Cognitiva de Jean Piaget, que divide o desenvolvimento do pensamento em quatro fases, os pré-adolescentes encontram-se no estádio das operações concretas. Para o psicólogo suíço, entre os 7,8 anos e os 11,12 anos, as crianças começam a deixar de confundir o real com a fantasia. O seu raciocínio passa a incidir sobre objectos materiais, reais, manipuláveis pelo pensamento ou pelos actos. Verifica-se também um menor egocentrismo, com progressos na socialização e na capacidade de perceber vários pontos de vista e tirar daí consequências. O monólogo interno passa a diálogo interno.



A criança começa a perceber as noções de conservação de volume, massa e comprimento. Por exemplo, se tivermos dois copos com a mesma quantidade de água e despejarmos um deles noutro copo de formato diferente, a criança perceberá que a quantidade de água se manteve. O que antes podia não acontecer. Consegue também perceber a noção de métrica do tempo e colocar por ordem um conjunto de acontecimentos.

Fonte: http://www.paisefilhos.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=1331&Itemid=62

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