quarta-feira, 25 de março de 2009

A Televisão e as Crianças

O estudo "A televisão e as crianças" - encomendado pela Entidade Reguladora da Comunicação Social e desenvolvido por investigadores da Universidade do Minho foi apresentado ontem na Fundação Gulbenkian , em Lisboa - indica ainda que 83,5% dos programas educativos - a maioria dos quais exibidos pela RTP2 - se destina à faixa até aos cinco anos.

Presente na sessão, o director deste canal, Jorge Wemans, disse ser uma opção deliberada porque "vivemos numa sociedade gradualmente mais desigual e devemos cada vez mais cedo dar às crianças ferramentas que reduzam essas diferenças".

O estudo analisou, ao longo de um ano, entre Setembro de 2007 e Outubro de 2008, a programação infanto-juvenil e as audiências entre os quatro e os 14 anos na RTP1, RTP2, SIC e TVI.

Os desenhos animados dominam a programação infantil dos canais generalistas e as novelas juvenis reinam nos privados. Há menos violência, mas faltam conteúdos mais pedagógicos.

Dois terços (69%) dos programas infanto-juvenis transmitidos pelos quatro canais generalistas nacionais - RTP1, RTP2, SIC e TVI - não são educativos. Foi esta a conclusão dos investigadores da Universidade do Minho, depois de analisarem 3283 programas para crianças.

Três quartos dos programas são transmitidos de manhã, quando o público-alvo se encontra na escola. Aqui os autores do estudo - Sara Pereira e Manuel Pinto - crtiticaram a TVI por, ao sábado de manhã, interromper a progranação infantil com "wrestling". "As tardes estão relativamente desguarnecidas", com excepção dos fins de tarde na TVI e RTP2.

Os programas mais vistos acabaram por ser as transmissões de jogos de futebol (Euro 2008) e as telenovelas nocturnas da TVI. Só depois aparecem os 10 programas infantis com maior audiência. Todos da SIC e da RTP2.

O relatório evidencia ainda que as raparigas preferem os canais generalistas e os rapazes tendem para os temáticos, por cabo, e que quanto menor é o estrato social, mais televisão consome.

A luta bem/mal, a magia e o humor são os temas predominantes nestes programas que têm "um universo muito branco, quase sem diversidade étnica e de classe média", disse Manuel Pinto.

"Uma boa surpresa", segundo a autora - com que o director de Programas da SIC, Nuno Santos se congratulou - foi a violência já não ser uma marca, explicado pelo autor por só 4% dos programas serem de origem asiática.

O director de Programas da RTP1, José Fragoso, admitiu haver um défice de produção nacional e de programas para pré-adolescentes (após os 14 anos), com o director de conteúdos da TVI, Paulo Soares, a alegar que as privadas vivem da publicidade e esta não é suficiente para produzir de raiz.

De acordo com os resultados do estudo, a faixa etária do pré-escolar (até seis anos) usufrui de uma “programação diversificada” na RTP 2, enquanto que a faixa etária entre os 6 e os 10 anos é a que tem menos possibilidades de escolha, sendo mais satisfeita pela SIC. A faixa etária dos mais velhos, entre os 11 e os 16 anos, tem uma oferta maior, mas menos diversificada, sendo preenchida essencialmente pelas telenovelas da TVI.

O futuro da programação infantil, tendo em conta o desenvolvimento da TV por cabo, da TV digital, do anunciado canal dedicado ao público infantil e juvenil; as possibilidades de diversificar mais os géneros da produção nacional e mesmo da produção de origem europeia; como envolver mais as instituições educativas, familiares, autárquicas e de investigação quer no acompanhamento e estudo desta matéria quer na definição de políticas de infância, foram alguns dos tópicos lançados pelo investigador Manuel Pinto para uma agenda pública de debate.


Fonte: http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1180554

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