terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Indústria alimentar vai restringir já este ano anúncios prejudiciais para crianças na TV

Segundo noticia do jornal Público, "Não se trata de proibir a publicidade. As empresas prometem apenas afastar da TV, no horário das crianças menores de 12 anos, os produtos que tenham sal, açúcar ou gordura em excesso.



Longe da vista e, quem sabe, longe da boca. As 26 empresas que assinaram em Novembro um compromisso de auto-regulação dizem estar dispostas a controlar a publicidade televisiva de produtos alimentares, nos horários em que a audiência de menores de 12 anos seja superior a 50 por cento. Tudo em nome do combate à obesidade infantil. O plano será executado já este ano e no início de 2011 será conhecido o primeiro relatório com uma avaliação independente sobre o impacto da medida.



Em Inglaterra, uma equipa de investigadores da Universidade de Liverpool fez a experiência para saber mais sobre a relação entre publicidade e obesidade. Recrutaram-se 59 crianças, entre os nove e 11 anos, e as conclusões do estudo, divulgado em 2007, foram notícia: não só há uma relação perigosa entre a publicidade e a obesidade nas crianças como se percebeu ainda que as obesas são as mais afectadas. Após terem visto anúncios, as crianças obesas comeram 134 por cento mais, as com excesso de peso comeram 101 por cento mais e os menores com peso considerado normal também sofreram o efeito dos anúncios, tendo ingerido 84 por cento mais alimentos.



A influência que a publicidade tem nos mais novos já motivou compromissos de auto-regulação da indústria em vários países europeus. Agora é Portugal. O acordo proposto pela Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares (FIPA), no âmbito da sua participação no Conselho Consultivo da Plataforma contra a Obesidade, foi assinado em Novembro e será executado ao longo deste ano. Para já, conta com 26 empresas (13 são nacionais) mas o plano está aberto a outros parceiros, empresas ou grupos de investigação que podem ao mesmo tempo contribuir para a monitorização do projecto.



Pedro Queiroz, director-geral da FIPA, frisa que não se está a falar de proibir os anúncios de produtos alimentares dirigidos para crianças. "Vamos restringir, em determinados horários, a publicidade dos produtos que não se enquadrarem nos critérios nutricionais, definidos pela Organização Mundial de Saúde. Estamos a falar dos produtos com excesso de açúcar, sal e gordura", resume. O plano aplica-se ao sector público e privado, envolvendo canais genéricos e temáticos. "Os anunciantes serão coerentes", promete Pedro Queiroz.



A estratégia das empresas poderá passar por apontar o "alvo" para os pais em vez dos filhos. "Algumas empresas podem optar por direccionar os anúncios mais para os pais, responsabilizando-os nestas decisões. A estratégia comercial será uma decisão individual", explica. Pedro Queiroz acredita no sucesso da medida, até porque, defende, o "castigo" para os incumpridores "é o juízo de todos nós".



Mas, afinal, o que é que as empresas têm a ganhar com isto? "Associar-se a uma medida de responsabilidade social e contribuir para a causa do combate da obesidade. A indústria alimentar é a última a ter interesse em estar conotada com a obesidade", responde Pedro Queiroz. Por outro lado, o director-geral da FIPA sabe que um eventual fracasso desta tentativa de auto-regulação fará com que a indústria fique "vulnerável a legislação". E essa será, sem dúvida, mais dura que uma auto-regulação.



"O ideal seria acabar com toda a publicidade a produtos com um perfil nutricional desadequado", refere João Breda, coordenador da Plataforma contra a Obesidade. Mas, como não vivemos no mundo ideal, a medida da FIPA é, pelo menos, "um bom primeiro passo". Sobre o facto não estar prevista nenhuma penalização para os incumpridores, João Breda acredita que a "penalização social pesa cada vez mais". "Vamos ver o que acontece nos próximos dois anos", arrisca o especialista, admitindo também que um eventual fracasso desta medida abre as portas para a discussão de legislação e possíveis penalizações".


Fonte: Jornal o Público

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